
“Que os católicos deste final do século XX estejam perplexos, quem negará?”
Com essas palavras Dom Marcel Lefebrve inicia sua Carta Aberta aos Católicos Perplexos, que tive a graça de ler recentemente. Um livro estarrecedor e fundamental para se entender o tempo histórico em que vivemos (embora tenha sido escrito há mais de 30 anos, o livro é de uma atualidade chocante).
Dom Lefebrve expõe com clareza e tristeza a profunda crise vivida pela Igreja no pós-concilio: os modernistas, outrora condenados por São Pio X, chegaram aos mais altos postos da estrutura eclesiástica, parasitando a Santa Igreja, renegando a tradição e buscando substituí-la por outra fé, dócil e perfeitamente adaptada ao mundo moderno.
A cada linha é possível quase que tocar a profunda tristeza deste homem ao ver a Igreja que tanto amou depredada pelos seus inimigos. E o mais trágico de tudo isto é que tais acontecimentos não pertencem apenas ao passado recente, ainda hoje os inimigos da igreja infiltrados na estrutura eclesiástica causam danos a fé de tantos homens e mulheres: grita-se pelo fim do celibato sacerdotal, pela ordenação de mulheres; a doutrina reta é silenciada, as mais vis e heréticas novidades propagadas aos quatro cantos. Os meus irmãos de Fé e pátria podem inclusive apontar para as garrinhas heréticas invadindo até mesmo a tradução das Sagradas Escrituras na terrível “edição pastoral” recheada de notas de rodapé destilando o veneno marxista da Teologia da Libertação.
Haveria ainda muito que comentar, e ainda não seria o suficiente. Mas, longe de ficar apenas em lamentações, o bispo francês também aponta um plano de ação aos “católicos perplexos”:
“(...) O que é preciso fazer? Existem escolas verdadeiramente católicas, se bem que em número reduzido [1]. Enviai para lá vossos filhos, mesmo se isso pesar no vosso orçamento. Abri novas, como alguns já o fizeram. Se não podeis frequentar senão escolas onde o ensino é desnaturado, manifestai-vos, reclamai, não deixeis os educadores fazer vossos filhos perder a fé.
Lede, relede em família o catecismo de Trento [2], o mais belo o mais perfeito e o mais completo. (...)
Rejeitai os livros que veiculam o veneno modernista. Fazei-vos aconselhar. Editores corajosos difundem excelentes obras e reimprimam as que os progressistas destruíram. Não adquirais qualquer Bíblia; toda a família cristã deveria possuir a Vulgata, tradução latina feira por São Jerônimo no século IV e canonizada pela Igreja. (...)
É preciso rezar, fazer penitência, como a Santíssima Virgem o pediu, recitar o terço em família. (...)”
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No mais, fica indicação do livro, com algumas ressalvas: Dom Lefebrve acaba tomando algumas posições por demais extremas, chegando a pôr em dúvida a validade dos sacramentos celebrados no rito pós-conciliar, portanto fiquem ligeiros!
A este respeito gostaria de deixar claro o que penso: é certo que o rito de São Pio V expressa de forma mais adequada a sacralidade do culto católico. Assim quando as circunstancias permitirem, recomendo que, sempre sob consulta do diretor espiritual, o fiel de preferência as missas celebradas segundo o rito tridentino, quando celebradas por sacerdotes em plena comunhão [3] com a Sé Romana. A Missa segundo o rito de Paulo VI, entretanto, continua inteiramente válida [4]. Em resumo, procure a missa que melhor edifique sua fé e não crie desculpas empoladas para deixar de cumprir o preceito dominical.
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[1] No Brasil, o único colégio católico digno do nome que conheço e indico sem peso na consciência é o colégio São Mauro.
[2] Além do Catecismo de Trento, chamado Catecismo Romano, e interessante também que se adquira e se estude o chamado Catecismo Maior de São Pio X, um resumo um pouco mais didático do Catecismo Romano elaborado pelo Papa Santo.
[3] Infelizmente, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X fundada por Dom Lefebrve, atualmente não se encontra em estado de plena comunhão com Sé Romana. Há rumores de um acordo em vista, rezemos.
[4] A validade da Missa segundo o Rito de Paulo VI não é contestada por nenhum fiel católico que esteja em plena comunhão com a Sé Romana, entretanto, a afirmação da superioridade da Missa Tridentina pode pegar algum leitor de surpresa, deixo claro ser esta uma opinião pessoal deste que vos escreve.
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